NOVOCINE

Um voo de 17 minutos, onde documento e reflito à cerca de um ano e meio da minha vida. Uma ode a mim mesmo por meio de uma câmara à mão e uma montagem que oferece a visão de um sistema solar pessoal. Entre a busca de imagens, o aborrecimento e a dança.
Um voo de 17 minutos, onde documento e reflito à cerca de um ano e meio da minha vida. Uma ode a mim mesmo por meio de uma câmara à mão e uma montagem que oferece a visão de um sistema solar pessoal. Entre a busca de imagens, o aborrecimento e a dança.
SOMEWHERE IN OUTER SPACE THIS MIGHT BE HAPPENING SOMEHOW um filme de PAULO MALAFAYA. 2019, PT, 17 min


NOVOCINE: Este filme foi feito há quanto tempo?

Paulo Malafaia: Há quase 5 anos, o que é assustador mas também sinto a passagem desse tempo porque estou muito diferente. O mais estranho é pensar que a primeira vez que fui a Lisboa foi para mostrar o filme no Indie e esse ciclo da minha vida que começou com o Somewhere acabou e já não estou a viver lá.

NC: Foi o teu primeiro filme?

PM: Sim e único, apesar de ter uns projetos em banho-maria.

NC: Que referências cinematográficas são importantes para ti?

PM: Esta pergunta é estranhamente difícil de responder, o que me irrita, e fiquei a pensar no porquê de o ser. Agora simplesmente não tenho muitas referências que considere importantes no cinema e tenho tido mais noutras áreas e a vir de outros sítios. Obviamente que há cinema que gosto mais e filmes que me marcam mais, mas não sei de que forma eles entram em conversa com o trabalho que faço. Muita da coisa que eu vi ultimamente que adorei não é muito uma referência para o meu trabalho e muitas das coisas que são referência para o meu trabalho têm sido coisas como cores, materiais, roupa, pessoas, conversas, objetos, sítios, música, etc.
Acho que a dificuldade que tenho em conseguir nomear referências cinematográficas surge também de uma ressaca de ser estudante e andar com uma lista de referências preparada para atirar a professores ou colar em relatórios. E apesar de não achar que isso seja particularmente mau, muitas dessas referências estão desatualizadas ou estão simplesmente tão esgotadas na minha cabeça, por já as ter dito várias vezes, que questiono se continuam a fazer sentido ou se, na verdade, tudo é uma referência, mesmo o que não me identifico e não gosto. Também admito que posso estar menos aware da presença das referências concretas que tenho. Acho que o porquê disto acontecer entra na forma como somos consumidores de arte, e as hierarquias e notas que colocamos, ou não, no que consumimos e estar simplesmente um pouco farto dessas formas de olhar para as coisas. Apesar de perceber o porquê de ser divertido ver um filme e ir dar uma nota no Letterboxd, por exemplo. Mas isso já não faz muito sentido para mim.
Posto isto, obviamente que tenho filmes e cineastas favoritos, mas em termos de referências diretas para o meu trabalho já não tenho tantas certezas se me interessa ser eu a percebê-las e identificá-las. E não faz muito sentido ir pesquisar nomes para responder a esta pergunta, faria sentido nomeá-los se me surgissem naturalmente na cabeça e eles não surgem.

NC: Menciona-se o Jonas Mekas numa sinopse algures. É um nome importante para ti?

PM: Na altura escrevi essa sinopse um bocado como forma de justificar o meu filme para o relatório da escola e meter referências para a coisa parecer melhor, porque também estava com medo do filme não ser percebido pelo júri da PAA. Nem tinha pensado que ia ser usada como a sinopse para festivais e assim, porque não faz muito sentido o nome dele estar lá, não fiz a curta por causa dele ou inspirado nele. Mas o filme mudou depois de ver o Song of Avignon (e o Container), especialmente na parte da voz off. Ao mesmo tempo até acho piada o nome dele estar nessa sinopse porque até que enquadra bem o filme, nem que seja num género, mas secalhar também o fecha e é uma associação fácil. Dito isto, o Jonas Mekas foi sem dúvida uma referência muito importante e um artista cujo trabalho já foi muito especial para mim. É que com ele é curioso. Eu andava a filmar imenso em formato de diário antes de o descobrir e quando vi o Song of Avignon tudo fez sentido. Uma das primeiras vezes que vi o trabalho de alguém e me identifiquei, como se tivéssemos necessidades parecidas e partíssemos de sítios que se cruzam e isso abanou-me imenso.

NC: Gostas do filme? Como olhas para ele com a distância dos anos?

PM: Gosto. Acho que acima de tudo, estou grato de o ter feito e de ter encapsulado uma altura tão crucial da minha vida da forma que fiz. Não só por estar no secundário e tudo o que essa altura da vida traz, mas também como forma de documentar a minha vida, as pessoas que tinha à minha volta que me marcaram tanto e o que era importante para mim. Como já não filmo de forma tão diária e intensiva acho que também tenho um carinho por já o ter feito e consigo perceber melhor o porquê de na altura o fazer e agora não. Era algo que eu tomava um pouco como garantido e era muito normal para mim, porque era algo que simplesmente sentia a necessidade de fazer. É bom rever o filme mas não gosto de o fazer regularmente. Também porque ver as coisas que estão lá (e por trás) é intenso, porque diz muito sobre quem eu era, tanto coisas que eu já sabia como coisas que não me apercebia na altura. Mas também há muito amor que sinto quando revejo.

NC: Queres fazer mais filmes?

PM: Adorava fazer mais filmes, só porque continuam a vir ideias e vontades que simplesmente são para existirem nesse formato.

NC: Mais imagem em movimento ou mais still image?

PM: Ambos!

NC: O que estás a fazer actualmente?

PM: Atualmente não tenho produzido muita coisa também porque emigrei para a Bélgica e tenho estado ocupado de outras formas. Mas quando surge tempo ou disposição para o trabalho, a fotografia e a escrita têm estado em primeiro plano, apesar do vídeo estar sempre presente.

NC: Artisticamente, estás concentrado e interessado em que temas, em que processos de trabalho?

PM: Agora o trabalho tem existido muito à volta dos autorretratos e dos anjos. Não me vejo muito livre disso, apesar de também já não fazer nenhum autorretrato há demasiado tempo para meu gosto…




realização, argumento, câmara e som PAULO MALAFAYA produção executiva EASR música DOLMEN MUSIC, MEREDITH MONK
︎ PAREDES PINTADAS DA REVOLUÇÃO PORTUGUESA de António Campos    REVOLUÇÃO de Ana Hatherly ︎ 22 ABRIL - 11 MAIO ︎ PAREDES PINTADAS DA REVOLUÇÃO PORTUGUESA de António Campos    REVOLUÇÃO de Ana Hatherly ︎ 22 ABRIL - 11 MAIO ︎ PAREDES PINTADAS DA REVOLUÇÃO PORTUGUESA de António Campos    REVOLUÇÃO de Ana Hatherly ︎ 22 ABRIL - 11 MAIO